Aprendemos a separar o mundo, as pessoas, as situações e
principalmente os sentimentos em dois grupos: bom ou ruim. Ou ainda: certo ou
errado! E no que se refere aos que sentem amor, muitas vezes nos comportamos
como se existissem dois grupos: o dos felizes comprometidos e o dos tristes
disponíveis. Ou ainda: o dos infelizes casados e o dos sortudos solteiros.
Em primeiro plano, seria ideal que passássemos a compreender,
de uma vez por todas, que esses são conceitos absolutamente limitantes e que servem
apenas para definir dois extremos. No entanto, a vida acontece exatamente entre
um extremo e outro. Ou seja, entre o bom e o ruim, ou entre o certo e o errado
é que estamos todos nós e tudo o que vivemos.
Ninguém é totalmente bom ou ruim e certo ou errado. Mas
somos, sim, bons e ruins e certos e errados. Há uma enorme e incrível diferença
entre o ou e o e. Um supõe apenas uma possibilidade e o outro supõe que somos
todas as possibilidades. É isso: somos todas as possibilidades, sempre!
Tudo isso para tentarmos entender que amar é uma
possibilidade. Mas não-amar também é uma possibilidade. Na mesma medida, viver
ao lado de alguém a quem amamos é muito bom; mas é também muito ruim. Assim
como vivermos sozinhos também é muito bom; mas também é muito ruim!
Seria ótimo se as circunstâncias da vida fossem absolutas,
se se encaixassem em respostas absolutas. Mas é justamente na flexibilidade e
na relatividade que está a oportunidade da evolução, do discernimento, da
percepção que nos torna seres exclusivos e complementares. É justamente no
privilégio da escolha que está a verdadeira possibilidade de sermos felizes.
Mas ainda assim, jamais nos agregaremos a um ou outro
extremo. E isso significa que não importa qual seja a nossa escolha, ela sempre
nos remeterá ao bom e ao ruim; ao certo e ao errado. Cada instante de nossa
efêmera existência exige uma nova atitude, que pode nos levar ao amor ou à
raiva, à felicidade ou à dor; à evolução ou à regressão.
Percebo que muitas pessoas deixam de amar, de se entregar ou
de viver intensamente uma relação porque não conseguem enxergar nenhuma outra
possibilidade além do difícil aprendizado que essa escolha significa. É verdade
que amar nos faz entrar em contato com sentimentos pouco desejados.
Mas quem disse que não amar nos redime de experiências como
essas? E a solidão? E a sensação de vazio? E a necessidade insatisfeita de
compartilhar momentos importantes, sejam eles bons ou não?
Por outro lado, há certamente um ganho muito grande nas
relações profundas e verdadeiras. A possibilidade de experimentar uma
felicidade suprema e extasiante. Assim como ao estarmos sós também podemos
vivenciar situações muito gratificantes, de encontros genuínos com a gente
mesmo, curtindo nossa própria companhia e tendo de corresponder somente às
nossas próprias expectativas.
No final das contas, o mais importante é nos conhecermos de
verdade. É sabermos quais são nossos reais valores e o que estamos buscando.
Creio que o objetivo maior seja o de evoluir. Cada qual pelo seu caminho, ao
seu modo, com seus próprios recursos.
Uma vez sabido isso, a escolha será satisfatória, ainda que
nunca nos prive de experimentar repetidas vezes o doce e o amargo sabor da
vida... isso sem falarmos do azedo, do salgado e, sobretudo, do paladar e da
preferência de cada um de nós!
Ame ou não ame. Seja casado ou solteiro. Seja raso ou
profundo. Mas seja, sempre, acima de qualquer circunstância, você mesmo, por
você mesmo.
E assim, tenha a certeza de que será feliz!
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