No meio das ofensas todas, havia algo que não se defendia, não sabia
como se defender, não conseguiria, ainda que tentasse. Havia algo delicioso de
se sentir que vinha de dentro da gente e se chocava no sorriso. Desenhado num
olhar. Cantava no silêncio. Fazia nascer o sol em meio ao tempo nublado encantando
nossas almas. Dispensava denominações e entendimentos, afinal nem tudo pode ter
uma explicação obvio e convincente aos olhos de quem estava de fora da
situação, mas para nós tudo se tinha um porque, simplesmente nasceu de uma
compreensão de palavras e gestos. Havia algo que tinha um cheiro inconfundível
que sufocava qualquer empecilho, destruía como furacão qualquer momento de
tristeza. Cheiro esse de paz risonha de
algo que é bom.
No meio a toda uma confusão, havia algo que não se confundia, não mudava,
não conseguia, ainda que tentasse mudá-lo. Havia algo maravilhoso para ser dado
e recebido, daqueles presentes que a vida embrulha com laço de cetim e entrega
a duas pessoas, sem que elas esperassem que acontecesse, inevitável, incontrolável,
mas sem intenção, nada premeditado.
Havia algo mutuo, e a troca é quando duas vidas se sentem olhadas ao
mesmo tempo. Havia algo que fazia um coração conversar com o outro, ouvir o que
era dito, gostar do que era dito, rir com o que era dito, sentir-se espelhado, envolvido,
muito além do que qualquer palavra, pois eram ditas de coração para coração,
ouvidas pela alma e compreendidas pelos corpos. Uma vontade de parar todos os
relógios do mundo parar, eternizar a dádiva da presença compartilhada, e tava
impressão de que às vezes até conseguíamos, mas na verdade não era o tempo que
parava e sim a palpitação do coração que diminuía a velocidade, trocava a
euforia por calmaria, à doçura da tua presença era sentida na pele.
Havia algo que delatava um
desejo que só nosso, fogos sem chamas e a gente iluminava as noites escura com
o fogo feliz da paixão, tinha o dever de clarear as todas as ruas que dão
acesso ao lugar do coração e dançar numa única canção. Havia algo que não podia
ser negado, preterido, amordaçado. Algo que inaugura os olhos, não era choro,
mas fazia brotar lágrimas. Algo raro e precioso. Que é perfeito, ao mesmo tempo
em que consegue incluir todas as imperfeições. Que é lindo, ao mesmo tempo em
que consegue integrar as esquisitices todas que gente também tem. Havia amor e,
de um jeito ou de outro, sabíamos sem nos dizer, havia chegado pra ficar. Não era
exposto em palavras, EU TE AMO, era pouco.
Você foi me revestindo de coragens, me embriagando de carinhos,
costurando meus sonhos junto ao seu travesseiro. Você veio pra me provar que
tudo é possível, numa época vazia, sombria, escura, tristonha, numa época em
que tão desgastado estava meu coração. Hoje, quero doses cotidianas de você que
me fez mais leve e mais cheia de humor. Que me brinde com amores e vinhos e me
deseje sem máscaras, rímel, batom Assim.
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