“[...] Com nós dois
tudo é possível. Tantas vezes já tentei entender o porquê disso, o porquê
daquilo. Não consegui. Ele também não. Por isso, nos afastamos. Distantes um do
outro, a gente pensa melhor. Ou não pensa: esquece. Ou tenta esquecer, e lembra.
Não importa, tudo se confunde. Hoje faz um mês que não nos vemos. Há trinta
dias colocamos pela última vez os olhos um no outro. A distância desse nosso
olhar se arrasta. Tive muitas coisas pra dizer nesse tempo todo. Não disse. Ele
também não. Calou-se. Mas isso não importa. Se disséssemos, não nos entenderíamos.
Foi melhor assim. Com o silêncio nasceu ao nas mais um mistério entre nós. Com a
palavra, nasceria um abismo. ”
Clarice
Lispector, em Encontro
Incrível a capacidade de nos comunicar
mesmo longe com quem apreciamos a presença, e quando estamos perto
apenas o olhar nos denuncia o que nosso coração pretende dizer, ai a gente
passa a mão no cabelo, em sinal de desespero, fecha os olhos e sai sem dizer
uma só sentença.
É, é o sinal do desespero, do medo de
entregar-se nos revela mais facilmente, a gente se absorve por dentro com
esse orgulho medíocre, que um dia foi ferido por outro alguém e hoje é ferido
por nós mesmo. A gente emudece na frente de quem se ama, o medo de amar de novo
e possivelmente magoar-se em seqüência, nos estagna. Mas até o calar-se retrata
o que temos por dentro, ou melhor, o que sentimos por dentro. Mas aí pra
diminuir essa falta de coragem de se entregar a um sentimento novo, esbaldamos
numa mesa de bar.
-
Garçom! Traga uma dose bem forte e sem gelo, por favor.
Esquentamos o corpo na intenção de
esquentar o coração que anda frio. E no consciente essa ação nos fará esquecer,
mas só o fato de tentar deletar da mente o que passou, ou melhor, quem passou por nossa vida, já nos
damos um motivo pra lembrar. Mas tudo foi dito em uma ligação, as palavras
mudas frente a frente, tomaram som do outro lado da linha e o que foi dito
magoou muito mais quem as pronunciou do que quem as ouviu. Mas a imagem dele
ainda esta a te perseguir porque não foi a você que ele tentou ferir foi a se próprio,
por medo do que poderias (você) despertar.
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