Podias ter-me dito que ias sair da minha vida. A paixão é
mesmo isto, nunca sabemos quando acaba ou se transforma em amor, e eu sabia que
a tua paixão não iria resistir à erosão do tempo, ao frio dos dias, ao vazio da
cama, ao silêncio da distância. Enquanto a minha insistiria té não ter mais forças. Há um tempo para acreditar, um tempo para viver
e um tempo para desistir, e você teve muita sorte porque viveu todos esses
tempos no modo certo, enquanto eu ainda não me acostumei com a tua ausência. Podias ter-me dito que querias conjugar o verbo desistir, pulando a terceira pessoa do singular "ela desistiu".
Demorei muito tempo a aceitar que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer, sem
travar batalhas. Antigamente pensava que não, que quem desiste perde sempre,
que a subtração é a arma mais covarde dos amantes, e o silêncio a forma mais
injusta de deixar vencer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje
sei que desistir é apenas um caminho possível, às vezes o único que os homens
conhecem. Contigo aprendi que o amor é uma força misteriosa e divina. Sei que
também aprendeste muito comigo, mais do que imaginas ou melhor mais do que você pensa, mesmo que não queria admitir e que agora consegues
alcançar teus objetivos porque a persistência aprendestes comigo . Só o tempo te vai dar tudo o que de mim guardaste, esse tempo que é
uma caixa que se abre ao contrário: de um lado estás tu, e do outro estou eu, a
ver-te sem te poder tocar, a abraçar-te todas as noites antes de adormeceres e
a cada manhã ao acordares. Não sei quando te voltarei a ver ou a ter notícias
tuas, mas sabes uma coisa? Já não me importo, porque te guardei no meu coração
antes de partires. Numa noite perfeita entre tantas outras, liguei o meu
coração ao teu com um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a
minha, enquanto dormias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário